Relatos de trincheira: o diário de Ambrósio Richshoffer sobre as guerras luso-holandesas na Capitania da Paraíba (1631)

Autores/as

  • Leandro Vilar Oliveira Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.53351/ruhm.v7i14.433

Palabras clave:

Ambrósio Richshoffer, diário de viagem, Guerras Luso-Holandesas (1630-1654), Capitania da Paraíba, experiencia de guerra

Resumen

O século XVII foi uma época de mudanças intensas e para alguns historiadores tenha sido um período de crises, o qual contribuiu na formação dos Estados europeus modernos e suas colônias. Neste contexto, as Guerras Luso-Holandesas (1630-1654) ocorridas em território brasileiro, foram um dos vários conflitos europeus que assolaram o mundo naquele tempo, sendo essas resultado de antigas desavenças entre a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos contra o Império Espanhol. Por tal condição de que entre os anos de 1580-1640, Portugal e suas colônias faziam parte do império espanhol devido a aliança política da União Ibérica, os portugueses e brasileiros herdaram a guerra entre holandeses e espanhóis. Tal condição levou os conflitos da Guerra de Flandres para o Brasil. O presente artigo procurou investigar o contexto das Guerras Luso-Holandesas, partindo da análise de uma fonte primária datada do século XVII, tendo sido escrita por Ambrósio Richshoffer, um jovem alemão que aos 17 anos se alistou na Companhia das Índias Ocidentais (West Indische-Compaigne – WIC) da Holanda, onde passou a servir como soldado por dois anos em território brasileiro, tendo registrado sua jornada em um diário de viagem. Para esse estudo em específico optamos em analisar o relato de Richshoffer em sua campanha militar na Capitania da Paraíba, na época, a segunda maior produtora de açúcar da região Nordeste do Brasil. O interesse da WIC sobre a Paraíba partiu da expectativa de se apossar de seus vinte engenhos, e interromper o envio de reforços e recursos que eram encaminhados a Pernambuco, onde se concentrava o exército holandês e as principais forças de resistência luso-brasileiras. Dessa forma, partindo do método da microhistória, realizamos a análise do relato de Ambrósio Richshoffer, procurando compreender os eventos em torno do primeiro ataque à Capitania da Paraíba (1631), no contexto das invasões holandesas no Brasil.

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Biografía del autor/a

Leandro Vilar Oliveira, Universidade Federal da Paraíba

Leandro Vilar Oliveira. Brasileiro, natural do Rio de Janeiro. É historiador, escritor, poeta e blogueiro. Mestre em História e Cultura Histórica (UFFB), Doutorando em Ciências das Religiões (UFFB), membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE). Autor do blog Seguindo os Passos da História. Tem como interesses de pesquisa história antiga, medieval e moderna, história militar, história das religiões, história cultural, história social e mitologia nórdica.

Citas

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As outras duas edições brasileiras que foram lançadas em 1982 e 2004, não trazem novas traduções, apenas atualizou-se a tradução de Alfredo de Carvalho. As novidades se encontram nas introduções, prefácios e notas feitas pelos editores.

Entre as capitanias de Pernambuco, Paraíba, Itamaracá e Rio Grande, a capitania da Paraíba possuía a segunda maior produção de açúcar. Operando com 20 engenhos, produzindo mais de 40 mil arrobas de açúcar em média, nas boas safras. Em 1640 a produção foi estimada entre 53.480 a 66.850 arrobas. Regina Célia GONÇALVES: Guerras e açúcares: política e economia na Capitania da Parahyba, 1585-1630, Bauru, EDUSC, 2007.

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A segunda expedição à Paraíba ocorreu entre 25 a 27 de fevereiro de 1634. A terceira expedição ocorreu entre 2 a 23 de dezembro de 1634, a qual consistiu na campanha derradeira. Na véspera de Natal de 1634, o exército da WIC entrou triunfante na capital paraibana. Leandro Vilar OLIVEIRA: Guerras luso-holandesas na Capitania da Paraíba (1631-1634): um estudo documental e historiográfico, Dissertação de Mestrado em História, Universidade Federal da Paraíba, 2016.

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Um dos fatores para o sucesso da armada holandesa ter conseguido conquistar Salvador, capital do Brasil, devia-se ao fato de a cidade somente possuir uma fortificação e ninguém esperava que um ataque daqueles ocorresse. Portugal não imaginava que sua colônia poderia sofrer um ataque tão grande, pois normalmente os franceses que costumavam ir ao Brasil saquear pau-brasil, agiam de forma sorrateira. Ricardo BEHRENS: Salvador e a invasão holandesa de 1624-1625, Salvador, Editora Pontocom, 2013.

As diretrizes dessa carta de comando, intitulada “Instruções secretas dadas ao general Hendrick Cornelissen Lonck, as quais deve abrir depois de ter partido [da ilha] de São Vicente e passado o Equador” (18 de agosto de 1629), pode ser consultada no “Secrete Notulen van de Vergaderinge van XIX in Middelburch”, disponível no Arquivo de Haia ou na Coleção José Higino no IAHGP. José Antônio Gonsalves de MELLO: Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil, Rio de Janeiro, Topbooks, 2001, p. 42.

Quando a frota da Companhia das Índias Ocidentais chegou à costa de Pernambuco, em janeiro de 1630, ela já apresentava uma baixa de cerca de 33,85% de seus marinheiros e soldados. Dos 3.780 marinheiros e 3.500 soldados enviados, ainda estavam disponíveis para o ataque à Capitania de Pernambuco, por não terem sido acometidos por enfermidades, por volta de 2.515 marinheiros e 2.300 soldados. Ou seja, apenas 66,15% do efetivo enviado podiam ser utilizados na operação de conquista. Bruno MIRANDA: op. cit., p. 221.

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Ambrósio RICHSHOFFER: op.cit., p. 99.

Matias de Albuquerque Coelho (1597-1657) foi o segundo filho de Jerônimo de Albuquerque Coelho e Anna da Silva, sendo irmão mais novo de Duarte de Albuquerque Coelho, governador de Pernambuco. Matias é lembrado por ter governado a Capitania de Pernambuco como lugar-tenente, ter composto a Junta Governantiva do Brasil, assumindo como governador-geral interino entre 1624-1625, época da invasão holandesa em Salvador. Tornou-se o principal general das forças de resistência contra a ocupação holandesa, entre 1630 a 1638. Leandro Vilar OLIVEIRA: op. cit., p. 81.

O Forte do Cabedelo atualmente é mais conhecido como Fortaleza de Santa Catarina. Já o Forte do Varadouro não existe mais.

Paulo do ROSÁRIO: Relaçam breve e verdadeira da memorável victoria, que ouve o Capitão-mor da Capitania da Paraíba Antonio de Albuquerque, dos Rebeldes de Olanda, que são vinte naus de guerra, e vinte e sete lanchas: pretenderão occupar esta praça de sua Magestade, trazendo nelas pera o efeito dous mil homens de guerra escolhidos, a fora a gente do mar, Lisboa, Jorge Rodrigues, 1632, p. 3.

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Frei Paulo do Rosário (1632) informou que foram 22 navios e 2 mil soldados. Duarte de Albuquerque Coelho (1654) disse que foram 30 navios e 3 mil homens. Já Joannes de Laet (1644) disse que foram 15 navios e cerca de 1.500 ou 1.600 homens. Atualmente os historiadores tendem a considerar que o relato de Laet seja o mais preciso, pelo fato do mesmo ter tido acesso a documentação militar da WIC para redigir seu livro.

Originalmente em seu livro Richshoffer não diferencia portugueses, espanhóis e colonos brasileiros, ele os chamava a todos de espanhóis, pelo fato de que naquela época Portugal e o Brasil eram governados por um rei espanhol, D. Filipe IV. Reflexo da União Ibérica (1580-1640).

Ambrósio RICHSHOFFER: op.cit., p. 100.

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Frank TALLET: op. cit., p. 24.

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O hornaveque (do alemão hornwek), também chamado obra cornuda ou cornas, etc., surgiu no século XVI, consistindo numa fortificação exterior a um forte, fortaleza ou muralha. O hornaveque era formado de dois lados chamados de ramais os quais na ponta terminava em dois meios baluartes, formando um triângulo. A estrutura consistia em muros, que poderiam ser reforçados por fossos. O hornaveque foi erguido diante da entrada do forte. Luís Serrão PIMENTEL: Methodo lusitânico de desenhar as fortificaçoens das praças regulares & irregulares, fortes de campanha, e outras obras pertencentes a architetura militar, distribuído em duas partes: operativa e qualificativa, Lisboa, impresso por Antonio Craesbeeck, 1680, pp. 20 e 87.

Duarte de Albuquerque COELHO: op. cit, 67.

John KEEGAN: op. cit, p. 337.

Ambrósio RICHSHOFFER: op. cit., p. 101.

Leandro Vilar OLIVEIRA: op. cit, p. 211-212.

John KEEGAN: op. cit., p. 337.

Frank TALLET: op. cit., pp. 34–35.

Bruno MIRANDA: op. cit., pp. 246-267.

Evaldo Cabral de MELLO: op. cit., pp. 232-233.

Leandro Vilar OLIVEIRA: op. cit., pp. 208.

Joannes de LAET: op. cit., p. 221.

Nas três batalhas travadas na Paraíba, as forças luso-espanholas-brasileiras dispuseram de cerca de 2.260 homens, enquanto a WIC dispôs de cerca de 5.454 soldados. Leandro Vilar OLIVEIRA: op. cit., p. 209.

Geoffrey PARKER: op. cit., p. 42–43

Um dos fatores que levaram a rendição dos Fortes do Cabedelo e de Santo Antônio em dezembro de 1634, deveu-se a falta de munição para os canhões e armas. Leandro Vilar OLIVEIRA: op. cit., p.

José Antonio Gonsalves de MELLO: op. cit., pp. 129-130.

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Ambrósio RICHSHOFFER: op. cit., p. 103.

Paulo do ROSÁRIO: op. cit., p. 14.

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Publicado

2018-07-11

Cómo citar

Vilar Oliveira, L. (2018). Relatos de trincheira: o diário de Ambrósio Richshoffer sobre as guerras luso-holandesas na Capitania da Paraíba (1631). Revista Universitaria De Historia Militar, 7(14). https://doi.org/10.53351/ruhm.v7i14.433